Bioeconomia leva "melhor borracha do mundo" de volta ao mercado na Amazônia

05/05/2025
Bioeconomia leva "melhor borracha do mundo" de volta ao mercado na Amazônia

As terras preservadas pelos povos indígenas, especialmente na Amazônia, abrigam produtos naturais de qualidade superior, um reflexo da preservação ambiental dessa região. No noroeste de Mato Grosso, antigos parceiros comerciais estão firmando novos contratos que consideram tanto a sustentabilidade ambiental quanto o valor social da produção, reativando a histórica cadeia produtiva da borracha.

A fabricante de pneus Michelin, por exemplo, encontra na região o que há mais de uma década classificou como a “melhor borracha do mundo”, produzida por indígenas Rikbaktsa em terras demarcadas, localizadas a cerca de 50 quilômetros de Juína (MT). Além disso, seringueiros da Reserva Extrativista Guariba-Roosevelt, no município de São Lourenço (MT), também extraem a borracha, dando continuidade ao ciclo de produção iniciado por gerações anteriores.

Bruna Mesquita, gerente de sustentabilidade da Michelin para a América do Sul, destacou que a qualidade da borracha nativa é excepcional, com alto nível de viscosidade. Ela também ressaltou que o interesse da empresa vai além da qualidade do produto, abrangendo seu impacto socioambiental. O uso da borracha nativa ajuda a reduzir o desmatamento, gera renda para as famílias e valoriza os saberes tradicionais, promovendo a economia da floresta e a preservação da biodiversidade.

Embora o modelo de negócio tenha evoluído, as mudanças garantem que, em 2025, o fornecimento de borracha impulsione não apenas a indústria, mas também a economia local. O projeto Biodiverso, uma iniciativa da associação Pacto das Águas com apoio da Petrobras e do Governo Federal, tem atuado como mediador entre o mercado e as comunidades, garantindo acordos equilibrados e capacitação para os trabalhadores. Entre 2024 e 2025, o projeto gerou R$ 528,8 mil com a comercialização de produtos como borracha, castanha e açaí.

A produção de borracha no noroeste de Mato Grosso, que alcançou quase 9 toneladas no ano passado, deve crescer para 30 toneladas anuais até 2027, triplicando as entregas e ampliando as oportunidades para indígenas e seringueiros. A Michelin, por meio da associação Memorial Chico Mendes, está em negociações para comprar toda a produção das seis regiões atendidas pela iniciativa Biodiverso.

Entre 2021 e 2024, a Michelin contribuiu para a proteção de 105 mil hectares de floresta diretamente e mais 269 mil hectares indiretamente, impactando cerca de 600 famílias e gerando quase R$ 5 milhões em renda. A empresa considera a bioeconomia uma forma de desenvolver o mercado local, mantendo as florestas em pé e combatendo o avanço do aquecimento global.

O coordenador do Biodiverso, Sávio Gomes, afirmou que o objetivo do projeto é proporcionar melhores condições de vida para as comunidades, destacando que cerca de 3.000 pessoas são beneficiadas com as iniciativas produtivas.

A produção de borracha tem seu “grande retorno” em volume esperado para este ano. Aldeias da região participaram de oficinas de capacitação para o trabalho de “riscar a seringa”, técnica tradicional dos seringueiros. Ailton Pereira, professor e seringueiro da Reserva Guariba-Roosevelt, destacou a importância dessa tradição, que é fruto de um esforço familiar de várias gerações, e ressaltou que, sem a permanência de seus avós e pais, a realidade local seria muito diferente.

Nos territórios indígenas, a bioeconomia tem se mostrado uma oportunidade de trabalho adaptada à realidade local, onde as condições de vida, frequentemente isoladas e com acesso limitado a serviços básicos, tornam o mercado especializado em produtos da floresta uma alternativa viável. Seringueiros e coletores podem comercializar seus produtos com remuneração justa, respeitando os valores da preservação ambiental e apoiando a sustentabilidade dos biomas brasileiros, ameaçados pela expansão urbana e pela demanda por matéria-prima.

A pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental, Joice Ferreira, observou que é essencial adotar uma abordagem mais cuidadosa, reconhecendo que nem todo produto precisa atender a uma grande escala industrial. Em vez disso, os mercados especializados valorizam a origem do produto e sua produção sustentável.

A Pacto das Águas, que atua em 1,4 milhão de hectares de floresta amazônica, enfatiza que, por meio de atividades de mínima intervenção nas florestas, a bioeconomia contribui diretamente para a preservação ambiental, mantendo ativos importantes como o estoque de carbono e os serviços ecossistêmicos, que sustentam a vida de animais, rios e comunidades. Esse impacto positivo também afeta indiretamente o ciclo das chuvas, beneficiando a agricultura regional, como a soja e o milho.

Esse modelo de bioeconomia, que alia preservação ambiental e desenvolvimento local, tem se mostrado uma solução eficiente para impulsionar a economia da Amazônia, ao mesmo tempo em que protege a biodiversidade e combate as mudanças climáticas.


Fonte: Um Só Planeta

Imagem: Canva

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