Borracha natural da Amazônia mostra que é possível unir resultado e sustentabilidade
A borracha natural extraída da Amazônia tem se consolidado como um exemplo de que é possível conciliar desenvolvimento econômico e preservação ambiental. Durante a COP30, que acontece em Belém (PA), o Brasil pretende mostrar ao mundo que é viável crescer de forma sustentável, e a cadeia da borracha nativa tem papel central nesse movimento.
A Amazônia Legal ocupa cerca de 60% do território brasileiro e abriga a maior floresta tropical do planeta, mas representa apenas 10% do PIB nacional. A região também enfrenta altos índices de desigualdade social, com quase metade da população vivendo em situação de pobreza. Nesse contexto, a bioeconomia surge como alternativa para impulsionar o desenvolvimento sem destruir a floresta. Estudos indicam que, até 2050, o setor pode adicionar R$ 40 bilhões ao PIB da Amazônia Legal e gerar mais de 800 mil empregos.
Entre os exemplos de sucesso está o uso da borracha natural, cuja extração depende da seringueira, árvore nativa que fornece o látex sem necessidade de desmatamento. O aproveitamento desse recurso tem garantido renda a famílias de seringueiros e contribuído para a manutenção da floresta em pé.
A marca francesa Veja, fundada por François Morillion e Sébastien Kopp, é um dos casos mais conhecidos de aplicação prática desse modelo. Diferente de outras marcas internacionais, que concentram a produção na Ásia, a Veja optou por fabricar seus calçados no Brasil e utilizar matérias-primas locais, como borracha amazônica e algodão orgânico.
A decisão de produzir no país surgiu após uma viagem dos fundadores pela Amazônia, quando perceberam o potencial econômico e ambiental da borracha nativa. Morillion afirma que o objetivo da empresa sempre foi utilizar a borracha como forma de valorizar a floresta e promover o desenvolvimento sustentável.
O modelo de produção da Veja segue princípios de comércio justo. As famílias fornecedoras recebem valores acima do preço médio de mercado, calculados com base no custo de produção, no tempo de trabalho e no esforço de preservação das áreas onde vivem. A empresa monitora por satélite as regiões de coleta e paga bônus adicionais às comunidades que mantêm suas áreas preservadas.
Embora a produção seja menor em comparação a grandes marcas internacionais, com cerca de 3,5 milhões de pares fabricados por ano e presença em mais de 60 países, a empresa mantém resultados sólidos. Segundo Morillion, isso é possível porque a Veja não investe em publicidade tradicional, o que reduz custos e mantém os preços competitivos.
Fonte: G1
Imagem: Canva