Empresa brasileira produz tênis sustentáveis com borracha natural e caroço de açaí

18/10/2024
Empresa brasileira produz tênis sustentáveis com borracha natural e caroço de açaí

Uma empresa localizada na zona rural de Castanhal, no nordeste do Pará, tem se destacado por inovar na cadeia produtiva de calçados e contribuir para a reativação de seringais nativos no Arquipélago do Marajó. A iniciativa incentiva o desenvolvimento socioeconômico de agricultores familiares na região. Denominada Seringô, a empresa produz tênis 100% sustentáveis, utilizando borracha natural e caroço de açaí no solado, além de tecido feito com juta amazônica.

Fundada em 2018 por Francisco Samonek, mestre em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais, a Seringô faz parte do projeto Marajó Sustentável, promovido pelo governo do Pará. O programa busca melhorar a produtividade e a qualidade da borracha natural, fomentando o desenvolvimento socioeconômico e ambiental de pequenos produtores, extrativistas, quilombolas e trabalhadores rurais. Atualmente, o projeto conta com 1.565 famílias cadastradas, com a expectativa de atingir 10 mil até dezembro de 2026.

As famílias envolvidas no projeto recebem capacitação e kits de ferramentas para a extração segura do látex, que incluem facas, cuias, botas de proteção contra cobras e facões para limpar o terreno. A Seringô elaborou um manual de boas práticas que estabelece um intervalo de dois dias para cada árvore antes de ser novamente riscada, e não utiliza produtos químicos que aceleram a extração, prática comum em seringais de cultivo intensivo.

De acordo com Samonek, as seringueiras nativas da Amazônia podem sobreviver por séculos, ao contrário dos seringais cultivados em São Paulo, onde as árvores se tornam improdutivas após cerca de 30 anos devido ao uso excessivo para extração. Ele ressaltou que, em São Paulo, essas árvores são derrubadas para produção de lenha ou móveis, enquanto a Seringô mantém um manejo sustentável.

Além disso, a empresa adota um processo produtivo mais limpo, sem o uso de água para lavar a borracha, o que evita o desperdício e a contaminação do solo. Em usinas convencionais no interior paulista, por exemplo, o processo pode demandar até 20 litros de água para cada quilo de borracha produzida, segundo o fundador da Seringô.

Samonek destacou ainda que a borracha utilizada pela empresa não enfrenta problemas de encolhimento, uma barreira comum para a indústria calçadista. Ele atribui essa vantagem ao caroço de açaí presente no solado, que equilibra a elasticidade do material sem a necessidade de aditivos químicos. Para o fundador, essa descoberta representa um duplo benefício, ao aproveitar um subproduto da cadeia do açaí e promover uma solução sustentável.

Entretanto, ele mencionou que muitas indústrias de calçados ainda resistem ao uso da borracha natural por considerarem seu processamento complexo e menos eficiente, já que o material não é injetável. Em busca de uma solução, a Seringô solicitou apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) para montar um laboratório em Castanhal, onde pretende desenvolver técnicas para tornar a borracha injetável. Samonek acredita que, caso isso seja alcançado, a indústria de calçados poderá se interessar em adquirir a produção amazônica, tornando o produto mais competitivo no mercado.

Embora a sede da empresa esteja em Castanhal, a montagem dos tênis é realizada no Rio Grande do Sul por meio de um parceiro local. O processo utiliza cadarços de algodão orgânico, e os produtos finalizados são enviados de volta ao Pará para serem comercializados pela internet.

Além dos calçados, a Seringô vende artesanatos e biojoias sustentáveis produzidos por comunidades capacitadas por uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) fundada por Samonek em 1998. Ele explicou que a Oscip, mais antiga que a Seringô, já atuava na capacitação e organização dessas comunidades para o mercado. Atualmente, cerca de 75 comunidades no Pará produzem e vendem esses itens.

Samonek enfatizou que todo o lucro gerado com a venda de artesanatos e biojoias é revertido integralmente para as comunidades, sem fins lucrativos para a Seringô. A empresa mantém seu foco na sustentabilidade e no desenvolvimento socioeconômico das populações locais.


Fonte: SBT News

Imagem: @seringooficial

Voltar
Patrocinadores Parceiros

Newsletter ABTB