Gerdau vai investir na produção de grafeno

19/04/2021
Gerdau vai investir na produção de grafeno

Dentre uma gama de 55 aplicações do grafeno com tecnologias mais avançadas, a Gerdau Graphene selecionou sete para desenvolvimento de produtos. Cinco de aplicações voltadas para a indústria - aditivos para concreto, resinas termoplásticas, artefatos de borracha, tintas anticorrosivas e lubrificantes industriais e automotivos. Duas outras áreas serão voltadas a projetos especiais: componentes para baterias de veículos automotores e sensores térmicos.

A Gerdau começou sua história como uma fábrica de pregos em Porto Alegre, chamada Paris, há 120 anos. Muito tempo depois, entrou na produção de aço e não parou mais. Atualmente, presente em dez países, é a maior siderúrgica de capital nacional no Brasil, uma das principais de aços longos nas Américas e líder internacional em aços especiais. De três anos para cá, o grupo decidiu avançar além do aço, entrando em outros setores, como fornecedora de serviços à construção civil, logística e canal de vendas online de materiais de construção. O novo passo da Gerdau tem como objetivo ser uma fornecedora mundial de produtos a partir do grafeno. Esse material tem origem no mineral grafite - muito usado na fabricação de lápis. O Brasil é rico em reservas minerais de grafite. Uma nova estratégia foi desenhada pelo grupo após o processo de desinvestimento de ativos em diversos países. A decisão se deu em razão da baixa rentabilidade de vários negócios no portfólio de aço, que foram vendidos no período de 2014 a 2018. Assim, o grupo saiu de Europa e Índia e se concentrou nas Américas. Com a saída da família da gestão executiva, ficando só no conselho de administração, em 2019 foi definido o plano de longo prazo. A meta é obter, até 2030, uma parcela expressiva da receita com áreas adjacentes ao aço, ou novas. É o caso da operação com grafeno, que começou a ser idealizada quatro anos atrás com experiências na divisão de aços especiais. Para se posicionar nesse negócio, o grupo acaba de criar a Gerdau Graphene, uma empresa que nasce com vocação global. Sediada em São Paulo, terá uma filial nos Estados Unidos, a princípio em Tampa, no Estado da Flórida. O foco inicial de atuação da empresa é as Américas, que tem um mercado para produtos de grafeno estimado em US$ 2,7 bilhões ao ano, disse ao Valor o diretor-geral da Gerdau Graphene, Alexandre de Toledo Corrêa.

O grafeno foi descoberto acidentalmente em 2004 pelos físicos russos André Geim e Konstantin Novoselov. A descoberta rendeu aos dois pesquisadores, em 2010, o prêmio Nobel de Física. Dentre uma gama de 55 aplicações do grafeno com tecnologias mais avançadas, a Gerdau Graphene selecionou sete para desenvolvimento de produtos. Cinco de aplicações voltadas para a indústria - aditivos para concreto, resinas termoplásticas, artefatos de borracha, tintas anticorrosivas e lubrificantes industriais e automotivos. Duas outras áreas serão voltadas a projetos especiais: componentes para baterias de veículos automotores e sensores térmicos. A Gerdau avançou os estudos e pesquisas do grafeno na parceria firmada em 2019 com o Centro de Inovação de Engenharia de Grafeno (GEIC), da Universidade de Manchester, no Reino Unido. A empresa tem lá, há dois anos, um profissional conduzindo esses trabalhos com especialistas do GEIC. O grafeno, informa a Gerdau, é um nanomaterial composto apenas por carbono. Por dispor de características únicas, tornou-se o maior condutor elétrico, um dos melhores condutores térmicos e um dos materiais mais resistentes e duros da atualidade, além de redução de peso e de atrito. Por isso, tem chamado a atenção: já há centenas de empresas - grande parte pequenas ou startups - trabalhando com esse material. Na forma mais simples, chamada de "bulk material" (em pó ou líquido), um quilo é vendido na faixa de US$ 100. Já um produto mais elaborado, com altíssima tecnologia - na forma de um vapor -, o quilo vai de US$ 2 mil a US$ 10 mil. Segundo Corrêa, há atualmente muitas empresas que fabricam, mas o cliente é que se encarrega em desenvolver a aplicação.

"A Gerdau Graphene já vai entregar o produto completo ao cliente", diz o executivo. E a própria Gerdau, em suas operações, será um consumidor de grafeno e poderá disseminá-lo para fornecedores e seus clientes de vários setores.A empresa já firmou duas parcerias estratégicas no mercado brasileiro - uma no setor automotivo, com Baterias Moura (componentes de baterias) e outra com a SKF, para desenvolver aplicações em armazenagem de energia, artefatos de borracha, compósitos e tintas. A empresa, disse Corrêa, será estruturada em três etapas. A primeira, entre dois e três anos, é de abertura e desenvolvimento de mercados. Nessa fase vai distribuir aos potenciais clientes "soluções de aplicações" prontas. Na segunda, começará o desenvolvimento dos produtos finais dentro da própria Gerdau. Por último, com domínio das tecnologias, vai instalar unidades de produção nas Américas. "A meta da Gerdau Graphene é ser um fornecedor com escala industrial", diz Corrêa, que chegou ao grupo em novembro, vindo da Suzano. Formado em engenharia elétrica na USP, além de MBAs em outras universidades, ele começa liderando um time de 15 pessoas. A empresa está no escopo da Gerdau Next, divisão criada em julho para desenvolver novos negócios.

Texto: Valor

Imagem: instituto Iluminante

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