Pneus sob novas regras
Laboratório do IPT se capacita para realizar ensaios que apontam presença de compostos tóxicos em pneus
Os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) compõem um grupo de compostos contendo dois ou mais anéis aromáticos condensados, os quais são formados, principalmente, pela combustão de material orgânico ou do processamento a quente de óleo cru e do carvão mineral. Estudos em cobaias mostraram que muitos deles são carcinogênicos e mutagênicos, sendo também considerados potencialmente genotóxicos (que causam efeitos sobre o material genético) e carcinogênicos para os humanos, principalmente no desenvolvimento de tumores do pulmão, de pele e do trato urinário.
Por determinação do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), a portaria número 544 de 25 de outubro de 2012 promoveu ajustes nos critérios fixados pelos regulamentos técnicos da qualidade para pneus novos de motocicletas, motonetas e ciclomotores de automóveis de passageiros e também para veículos comerciais. Uma das novas exigências de avaliação da conformidade foi o controle de índice Hbay inferior a 0,35%, ou seja, a quantidade de HPAs não pode ultrapassar este limite a fim de evitar que o atrito e o desgaste dos pneus liberem os compostos para o meio ambiente – a exposição humana aos HPAs pode ocorrer por inalação, pela pele ou por ingestão.
Para atender a nova demanda, o Laboratório de Análises Químicas do IPT se capacitou e se tornou um dos únicos no Brasil a oferecer o ensaio, conforme a norma técnica ISO 21461, para a determinação da aromaticidade do óleo em compostos vulcanizados de borracha, com base na espectrometria por ressonância magnética nuclear. Como a portaria passou a exigir de fabricantes (nacionais e multinacionais) e de importadores o atendimento compulsório aos requisitos em até 48 meses a partir da data de sua publicação, todos os responsáveis pela produção e comercialização de pneus novos são obrigados, desde outubro de 2016, a apresentar certificados de conformidade ao índice de HPAs de seus produtos.
Os ensaios realizados no laboratório do IPT são executados em amostras de pneus triturados, ou seja, com a matéria-prima vulcanizada, explica a pesquisadora Shoko Ota: “A preparação das amostras exige a extração dos óleos aromáticos, que em seguida passam por um clean-up para a remoção de todas as impurezas – no aparelho de ressonância, caso haja muitos compostos misturados, não é possível observar os óleos”. Caso sejam identificadas não conformidades nos ensaios de manutenção realizados, afirma Shoko, a auditoria de manutenção deve voltar a ser feita a cada doze meses, desde que se evidencie o tratamento das não conformidades.
Segundo dados da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP), o terceiro trimestre de 2017 teve uma alta de 8,6% na venda total de pneus nacionais em comparação ao mesmo período de 2016 – os bons números foram resultado principalmente das compras das montadoras, que cresceram 16,3% no trimestre em relação a 2016, com um total de quatro milhões de unidades vendidas contra 3,5 milhões no ano anterior. No consolidado do ano (janeiro a setembro), o aumento foi de 2,4% nas vendas totais em relação ao mesmo período do ano passado.
Entre os anos de 2016 e 2017, oito empresas procuraram o laboratório do IPT para solicitar a realização dos ensaios e 42 amostras foram analisadas, das quais somente três estavam acima do limite permitido.
Fonte: IPT