Preço da borracha tem maior alta em cinco anos no mercado interno

A safra de borracha no Estado de São Paulo, responsável por 65% da produção nacional, deve alcançar 266 mil toneladas na temporada 2024/2025, que se encerra em agosto. A projeção é do Instituto de Economia Agrícola (IEA) e, se confirmada, representará um crescimento de 8,8% em relação à safra anterior.
Apesar da estimativa positiva, parte dos produtores já registra perdas. Segundo o engenheiro-agrônomo e produtor Gilson Pinheiro, ainda é cedo para uma avaliação definitiva, já que 70% do volume da safra é colhido entre março e agosto e o desempenho final dependerá das condições climáticas no período.
A Associação Paulista de Produtores e Beneficiadores de Borracha (Apabor) estima uma possível redução de até 20% na produção, em razão de fatores como adversidades climáticas, escassez de mão de obra e os incêndios registrados em 2024. O diretor-executivo da entidade, Fabio Tônus, explica que áreas de seringais foram atingidas pelo fogo e que parte da mão de obra migrou para outros setores ou retornou aos seus estados de origem. A expectativa agora é de recuperar esse contingente.
Enquanto a produção segue incerta, os preços atingem o maior patamar em cinco anos. Com valorização de 118% em relação ao ano passado, a rentabilidade é comemorada pelos produtores, ainda que com cautela. O cenário é reflexo de anos de prejuízos, redução de área plantada, aumento das importações e evasão de trabalhadores. De acordo com dados do IEA, a área de cultivo em São Paulo encolheu 11,2% nos últimos dois anos.
Desde o início da safra atual, em setembro, os preços vêm registrando alta. Em fevereiro de 2025, o valor médio pago ao produtor no mercado paulista alcançou R$ 6,65 por quilo de coágulo. Em 2023, o preço médio foi de R$ 3,10 e, em 2024, de R$ 3,05. De acordo com o produtor Fábio Magrini, há, pela primeira vez em anos, expectativa de lucro para a atividade.
Formação de preços
O valor pago pela borracha depende do rendimento do produto, medido pelo DRC (Dry Rubber Content, ou Teor de Borracha Seca), que indica a quantidade de borracha aproveitável em relação à água no coágulo. Segundo Gilson Pinheiro, usinas só compram borracha com, no mínimo, 53% de DRC – o que significa que, de um quilo de borracha, 530 gramas são utilizadas pela indústria.
O IEA e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) são responsáveis por calcular mensalmente o preço de referência das importações de borracha natural, que serve como base para negociações no mercado interno. Em março, o valor de referência da borracha GEB (granulado escuro brasileiro), já beneficiada, foi de R$ 15,40 por quilo. Para calcular o valor da borracha natural, o preço é multiplicado pelo percentual de DRC.
Segundo a pesquisadora do IEA, Marli Mascarenhas, a criação do índice atendeu a uma demanda do setor por maior imparcialidade e transparência nas negociações.
Queda na produção global
Os preços elevados no Brasil também refletem a valorização no mercado internacional, influenciada por problemas climáticos. De acordo com Marli Mascarenhas, as chuvas intensas de 2024 na Ásia impediram o sangramento das árvores em países como Tailândia e Indonésia, os maiores produtores mundiais. Como consequência, os preços da borracha na Bolsa de Singapura acumularam alta superior a 40% em 2024.
A pesquisadora acrescenta que não há perspectiva de aumento na produção global nos próximos anos, período em que a demanda deve seguir 1,5% acima da oferta. A projeção do setor é de que os preços se mantenham firmes pelos próximos três anos. Para o diretor da Apabor, Fabio Tônus, o cenário pode marcar o início de um novo ciclo de crescimento para a heveicultura no Brasil.
Em 2024, diante de uma cotação média de R$ 3,05 por quilo, os produtores paulistas operaram com um custo médio de R$ 5,00 por quilo. Para Magrini, a valorização atual pode ajudar a atrair novamente a mão de obra necessária para o setor. No ano anterior, ele conseguiu trabalhadores apenas para uma de suas duas propriedades. Em uma das fazendas, operou com 90% da equipe ideal; na outra, com apenas 20% a 30%, dependendo do mês. Magrini mantém 120 hectares em produção na região de São José do Rio Preto, principal polo produtor do Estado, com 32% da área cultivada.
A atividade exige mão de obra qualificada. Diferente da laranja, por exemplo, cuja colheita pode ser realizada por trabalhadores rapidamente treinados, a extração da borracha exige precisão técnica. Segundo Gilson Pinheiro, o corte da casca deve ser feito com precisão de milímetros, de forma a não danificar a planta e maximizar a produção. Ele planeja ampliar sua área de cultivo em mais 10 hectares neste ano, somando 640 hectares entre terras próprias e arrendadas.
O Brasil produz atualmente cerca de 50% da borracha natural que consome. Em 2023, segundo o IBGE, a produção totalizou 463 mil toneladas, com destaque para os estados de São Paulo, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Tocantins e Pará.
As importações seguem como um desafio. O setor pressiona por um aumento na tarifa de importação para evitar a formação de estoques excessivos por parte das indústrias pneumáticas, principais compradoras do insumo. Marli Mascarenhas informa que, após um recuo na safra passada, as importações voltaram a crescer, registrando alta de 94% no primeiro bimestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2024.
Fonte: Globo Rural
Imagem: Canva