Preços da borracha atingem patamares históricos

23/04/2021
Preços da borracha atingem patamares históricos

Nos seringais da região de Rio Preto, que representam 56% da produção de borracha brasileira, os produtores se preparam para o pico da colheita, com a expectativa de preços mais atrativos pagos nos últimos dez anos. Neste mês, o quilo da borracha (GEB10) atingiu os R$ 10,54, 14,9% a mais que os valores pagos nos meses de fevereiro e de março, que chegaram a R$ 9,18. Por outro lado, a baixa produtividade das seringueiras, impactada pelas adversidades climáticas, a demanda maior pelo produto, além das incertezas causadas pela pandemia do novo coronavírus, deixam o setor em sinal de alerta para a possível escassez de borracha, como analisam especialistas e produtores rurais.

"O Brasil não é autossuficiente na produção de borracha e o mercado ainda depende de 70% da importação do produto de países da Ásia, o que traz certa preocupação para as indústrias de pneus, que têm as maiores demandas da borracha", explica o presidente da Associação Paulista dos Produtores e Beneficiadores de Borracha Natural (Apabor) e produtor rural, Fábio Magrini.

O mercado da borracha natural com a pandemia do novo coronavírus, no ano passado, já apresentava a preocupação com as medidas de isolamento social que paralisaram a produção das indústrias pneumáticas no País. De acordo com Magrini, em 2021, ainda em decorrência da pandemia, os estoques reguladores de borracha envolveram os transportes de carga marítima para a importação da borracha, e que estão levando maior tempo para escoar o produto, mais um dos motivos apontados de possível escassez da borracha nas indústrias.

Para o presidente da Apabor, "tudo na agricultura depende do mercado e a gente acompanha de perto toda essa cadeia do campo às indústrias". Ele aponta que um fator positivo para os produtores de látex nesta safra foi que não houve a paralisação das indústrias, como ocorreu o ano passado por causa da pandemia da Covid-19. "Por enquanto, as indústrias de pneus estão comprando a borracha e as usinas de beneficiamento estão mantendo os estoques que chegam do campo", diz Magrini.

No campo, Magrini afirma que o impacto climático afetou a produtividade das seringueiras, o que também sinaliza para a menor produção do látex da safra 2020-2021. "No ano passado tivemos tempo muito seco, com a umidade relativa do ar muito baixa, o que reduziu o fluxo da seiva na planta. Este ano, as chuvas estão muito irregulares, o que também não é bom para realizar a sangria nos painéis das seringueiras", comenta ao lembrar que a safra da seringueira teve início em setembro do ano passado e termina em agosto de 2021.

Neste cenário, o engenheiro agrônomo e diretor agrícola da Planthec, Cássio Scomparin, diz que as usinas de beneficiamento de borracha estão com volume menor do produto em comparação a safras anteriores. "Há uma preocupação quando conversamos com o setor da indústria de pneus, não sabemos o que vai acontecer com relação à pandemia, em decorrência das medidas de fechamento de comércio", comenta Cássio.

A possibilidade de escassez da borracha natural, segundo o diretor executivo da Apabor, Diogo Esperante, está muito relacionada com o fornecimento internacional asiático, "já que a demanda interna do produto é de 40% do que nós produzimos". A situação da logística para a importação do látex vindo de países como Tailândia e Vietnã também encareceu os custos com contêineres. "Os custos com a importação ficaram muito altos diante da valorização do dólar. Além disso, o setor da borracha natural enfrenta o período de entressafra em todo mundo e as indústrias brasileiras passam a disputar mais a borracha produzida no Brasil", diz Esperante.

No Brasil e nos seringais da região Noroeste do estado de São Paulo, Esperante lembra que a produtividade ficou 30% abaixo nesta safra e que a pandemia do coronavírus também contribuiu para uma demanda reprimida da borracha em todo o mundo. "Mas ainda acreditamos que temos condições de produzir bem nesta safra, com os preços de coágulo da borracha muito valorizados, com a alta do dólar, o que motiva muito os heveicultores."

Produtividade

Pela estimativa do Instituto de Economia Agrícola (IEA) /Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, a produção da safra agrícola da seringueira para o ciclo 2020-2021 será de 250,2 mil toneladas de coágulo de borracha, aumento de 1,0% em relação à safra agrícola 2019/20. O acréscimo de 1,1% da área produtiva, com a entrada de 1,2 mil hectares de seringais a serem sangrados, explica a alta. No total, segundo o levantamento, a área cultivada (nova e em produção) tem redução de 1,1% e contabilizam 133,9 mil hectares nesta safra.

Na gestão técnica de 35 seringais da região e com uma produção de 5 mil toneladas de borracha anuais, a Cooperativa Hevea Forte, de Monte Aprazível, investe na especialização da mão-de-obra. O diretor da Cooperativa e engenheiro agrônomo, Nilson Augusto Cardoso Troleis, explica que o trabalho dos 400 sangradores é importante para manter a heveicultura, setor de grande potencial no Noroeste Paulista.

"A assistência técnica, com o treinamento dos trabalhadores e as visitas ao campo sempre serão a nossa estratégia, o desafio na produção dos seringais. Hoje o setor está excepcional para a produção da borracha, com demanda e mercado comprador", destaca Nilson. Ele lembra ainda que a produção das seringueiras pode ser de até 40 anos, o que implica em muita tecnologia de gestão, para atingir os níveis de produtividade das árvores.

Renato Arantes, supervisor de compras da empresa de beneficiamento de borracha natural Noroeste Borracha, de Urupês, afirma que o estoque regulador do produto está normal. "Estamos monitorando os seringais devido à baixa produtividade registrada nesta safra", explica. Segundo ele, até o mês de março a queda na produção dos seringais foi de 25% em relação ao mesmo período de 2020.

O clima interferiu muito na produção, com período seco na entressafra das seringueiras para a temporada de 2021, na avaliação do supervisor da usina. "Como a produção de látex necessita de chuvas e o período chuvoso não foi o esperado, tivemos muito déficit hídrico, o que reflete nos meses de pico da colheita do seringal", diz Renato.

A estimativa de produção na empresa é de 22 mil toneladas de borracha seca por ano, sendo que a maior parte do beneficiamento da borracha é comercializada entre as indústrias pneumáticas, de acordo com Renato. Ele lembra que no ano passado, com o início da pandemia no País, as indústrias de pneus paralisaram as atividades, o que provocou os maiores estoques do produto nas usinas de beneficiamento. Porém, este ano o fornecimento está controlado, com o escoamento normal da borracha e a atenção maior voltada para o campo, pelo fato da produtividade menor das seringueiras.

Venda de pneus

As vendas totais da indústria brasileira de pneus fecharam o ano de 2020 com baixa de 12,9% em comparação com o ano anterior, segundo dados da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip). A baixa no acumulado do ano foi observada nas vendas de todos os segmentos, como os pneus de passeio (-19,2%), comerciais leves (-13%), carga (-1,8%) e moto (-1,2%).

O levantamento aponta também que, mesmo apresentando sucessivos meses de boas vendas, incluindo o mês de dezembro 9,5% maior em 2020 do que foi em 2019, o setor não conseguiu reverter perdas com as vendas dos meses de grande baixa. Esse comportamento pode ser observado nos segmentos de comerciais leves (27%), carga (25,8%) e motocicleta (20,3%).

Em nota enviada pela assessoria de comunicação, o presidente executivo da Anip, Klaus Curt Müller diz que "em um ano totalmente único, com suspensão de produção por um período determinado e de amplas medidas de prevenção em relação à Covid-19 que ainda permanecem, a indústria de pneumáticos no Brasil respondeu prontamente as necessidades de todos os mercados, inclusive com crescimento no fornecimento do equipamento original".

Para este ano, os dados do levantamento da Anip apontaram que a indústria nacional de pneus vendeu, no mês de março, 4.967.094 unidades, resultado 11% maior em comparação com março de 2020, tendo como principal destaque o segmento de comercial leve, com crescimento de 31,6%. Na comparação com o mês de fevereiro a alta foi de 9,9%, com o crescimento das vendas dos segmentos de comercial leve (24,7%), motocicleta (17,5%) e carga (11,9%). Diante desses resultados, o acumulado das vendas em 2021 está 5,4% maior do que no mesmo período de 2020, conforme o levantamento setorial divulgado pela Anip. (CC)

Texto: Diário da Região

Imagem: Diogo Esperante -APABOR

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