Produção industrial ganha vigor em 2018, mas cenário político é um risco

15/06/2018
Produção industrial ganha vigor em 2018, mas cenário político é um risco

Expectativa do mercado é positiva principalmente diante da retomada da economia, porém, ainda não é suficiente para que haja uma retomada dos investimentos por parte dos fabricantes.

A indústria começa a dar sinais de retomada consistente, com crescimento disseminado após três anos consecutivos de queda. Para 2018, a expectativa é que a produção avance de forma mais vigorosa, porém, diante do parque ainda ocioso, os investimentos devem demorar pelo menos dois anos para retornar.

“A expectativa é que o avanço da produção industrial ganhe vigor neste ano, o que estava faltando nos últimos meses. Com isso, as relações de crescimento intrassetoriais aumentam”, afirma o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rafael Cagnin.

Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (01) mostram que a produção industrial aumentou 2,5% no acumulado de 2017. Foram registrados resultados positivos nas quatro grandes categorias econômicas, 19 dos 26 ramos, 51 dos 79 grupos e 56,4% dos 805 produtos pesquisados.

“Esse resultado demonstra que a indústria brasileira vem ganhando consistência, bem como uma generalização do crescimento na maior parte dos segmentos”, diz Cagnin.

De acordo com o IBGE, das sete atividades com queda na produção, a de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis teve a maior contribuição negativa (-4,1%), pressionada, em grande medida, pelo item óleo diesel. Mais baixas importantes vieram de outros equipamentos de transporte (-10,1%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-5,3%), produtos de minerais não metálicos (-3,1%) e de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-3,5%).

O crescimento da produção industrial em 2017 foi puxado pelos bens duráveis, que registraram incremento de 13,3% no acumulado do ano, com ênfase para a reposição nas quedas do setor automotivo – que cresceu 17,2% no período –, e também pelos bens de capital, que registraram alta de 6% impulsionados pelos equipamentos de transporte.

“O resultado foi uma boa surpresa. Parece que a indústria está começando a acelerar”, diz o professor e coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada da Escola de Economia de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas, Emerson Marçal.

Esse desempenho está amparado pela melhora do consumo e da renda da população, bem como a redução – ainda que sutil – dos níveis de desemprego nos últimos meses.

Apenas em dezembro, o crescimento da produção industrial foi de 2,8% na comparação anual e a maior alta desde junho de 2013 (3,5%). “Se em janeiro e fevereiro deste ano os dados de dezembro se repetirem, a perspectiva é de que o crescimento da produção industrial possa atingir 4% ou 5% no ano”, estima.

Para Marçal, os bens duráveis devem ser o carro-chefe da produção neste ano, com a retomada da disposição das famílias em investir – e devido à queda das taxas de juros. Os bens de capital também devem ter resultados melhores.

Contudo, as incertezas em relação às eleições devem frear os investimentos até que um novo presidente seja escolhido. “A pedra no sapato para a produção industrial e o investimento é o cenário político, pois os empresários não vão investir sem saber como será a agenda política e o comprometimento com as reformas do novo presidente”, diz o economista do Iedi.

Marçal pondera que outro entrave para o investimento é que um número significativo de empresas têm capacidade ociosa elevada. “Há uma recuperação, mas a indústria está longe de se recompor. Só em dois ou três anos será possível falar em investimento mais forte no parque industrial.”

PMI

Apesar da expectativa na indústria de repetição do bom desempenho de dezembro no mês de janeiro, o índice dos gerente de compras (PMI, na sigla em inglês) do setor no Brasil foi na direção contraria e caiu de 52,4 pontos no último mês de 2017 para 51,2 pontos em janeiro, informou ontem a IHS Markit. “A economia do setor iniciou 2018 num passo mais lento do que terminou 2017”, reforça a economista da instituição, Pollyanna de Lima.

O PMI industrial, porém, segue acima dos 50 pontos – que separa a retração da expansão da atividade. Apesar da queda, a instituição ressalta que as condições operacionais da indústria seguem alta, com a sexta melhora consecutiva.

DCI Online - SP / INDICADOR

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